sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Primus Inter Pares e o universo Fantástico

Bem, a verdade é que a Fantasia está a ganhar terreno no universo dos livros e, na iminência da quarta edição do Fórum Fantástico, vamos falar um pouco deste fenómeno.

Falando de livros (já que os RPG's são um peso-pesado), desde o esmagador sucesso das sagas Harry Potter e Senhor dos Anéis (esta última já bem adulta quando se tornou «famosa») que o público - especialmente adolescente e jovem - se virou para o Fantástico de um modo, até à data, nunca visto.
Feiticeiros, magos, grifos, princesas, elfos, trollocs, druidas, sacerdotizas, cavaleiros e amazonas, exércitos fantasmagóricos, hobbits, planícies e vales distantes (uma distância de mundos) de cidades e tecnologias de ponta, harpias e batalhas, tudo isto se tornou parte de um novo imaginário juvenil, com espaço para heróis e vilões como modelos.
O aparecimento de novos títulos e autores (e a aclamação mundial de outros já com percursos longos) foi - e é - de uma rapidez vertiginosa, saciando os apetites imediatos dos leitores. Agora, como tudo (até na literatura), há um outro lado da questão, muito bem apontado num artigo da revista Os Meus Livros deste mês: a produção de títulos é, de facto, impressionante mas isso não garante que, a outros níveis, o resultado seja perfeito.

E porquê?

Segundo o artigo, dos muitos títulos que surgem, poucos são aqueles que não lutam pelo lugar de Tolkien ou Robert Jordan, isto é, a aposta feita pelas editoras é reduzida e até redutora. Citando:

«Os blurbs e promoções rejeitam toda a promessa de algo novo, atropelando-se na ânsia de promover o "novo Tolkien", os livros que fazem lembrar livros anteriores em tudo menos no nome das personagens. A palavra de ordem parece ser "se gostou deste, leia aquele, pois são 'absolutamente' iguais. »

Enfim, feiticeiros, magos, grifos, princesas, elfos, trollocs, druidas, sacerdotizas, cavaleiros e amazonas, exércitos fantasmagóricos, hobbits, planícies e vales distantes (uma distância de mundos) de cidades e tecnologias de ponta, harpias e batalhas, repetindo-se incansavelmente.

Por outro lado,

«A inexistência de uma publicação constante de obras de Fantasia adultas, capazes de permitir a transferência deste público leitor ao atingir a adolescência ou maioridade, deixá-los-á órfãos (logo que ultrapassem essa idade) ou atavicamente presos a uma infantilidade cultural.»

Ou seja, feiticeiros, magos, grifos, princesas, elfos, trollocs, druidas, sacerdotizas, cavaleiros e amazonas, exércitos fantasmagóricos, hobbits, planícies e vales distantes (uma distância de mundos) de cidades e tecnologias de ponta, harpias e batalhas que nunca se atrevem a ser feiticeiros, magos, grifos, princesas, elfos, trollocs, druidas, sacerdotizas, cavaleiros e amazonas, exércitos fantasmagóricos, hobbits, planícies e vales distantes (uma distância de mundos) de cidades e tecnologias de ponta, harpias e batalhas adultas.

Nomes como Tolkien ou Robert Jordan, do mesmo modo que Rimbaud, Dostoievsky, Pessoa ou Oscar Wylde, têm o seu lugar num patamar muito próprio. Todos eles partilham de um mesmo aspecto (e tão diferentes as literaturas): a originalidade, a distinção entre muitos, a herança deixada não a um tempo ou tendência mas, exactamente, à intemporalidade.
A dita «promessa de algo novo» não deve (nem tem) de ser evitada mas antes mantida.


1 comentário:

Carla Ribeiro disse...

Boa noite!
Antes de mais, queria dar os parabéns à Bertrand pelo grande trabalho de publicação no âmbito do fantástico. Como grande fã do género, é sempre um prazer ver publicados em português os grandes nomes da fantasia.
Creio que não têm blog relativo à saga do Robert Jordan, mas, mesmo assim, gostava de os informar de que, depois de ler o 4º livro da saga, escrevi um breve comentário, que pode ser encontrado no meu blogue "As Leituras do Corvo".

Cumprimentos...
Carla Ribeiro